Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos

Overview sobre conceitos centrais
Antes de adentrarmos, é preciso esclarecer alguns pontos gerais: Ciclos Econômicos são períodos de crescimento (boom) seguidos de períodos de recessão (bust); Inflação é a perda do poder de compra causada pela expansão monetária; juros são o preço do capital (dinheiro) no tempo e poupança significa abstinência do consumo imediato.

Juros e política

Muitos governos, geralmente com a intenção populista de “aquecer” a economia, reduzem as taxas de juros, expandindo o crédito circulante na economia. Reduzir as taxas juros significa que o dinheiro ficou mais barato, então podemos pegar empréstimos para financiar nossos projetos pessoais e empresariais.

Lembram daquela história do pobre andar de avião, ingressando na faculdade, comprando carro, mobiliando casa, abrindo empresa e etc? Pois é, politicamente falando, é muito vantajoso incitar maior consumo via expansão de crédito. Porém, os frutos nocivos não podem ser evitados.


Oferta e Demanda

A expansão do crédito estimula, simultaneamente, o consumo e a produção. Aumenta o consumo porque, com maior acesso ao crédito, as pessoas podem adquirir bens a prazo.  Há incremento pelo lado da oferta também, pois diversos projetos que visam a expansão dos negócios podem ser iniciados. Na primeira fase, temos o chamado boom e a economia fica aquecida.

Muitos economistas, baseados nas teorias de equilíbrio de mercado, não veem maiores problemas em estimular, simultaneamente, oferta e demanda, pois, conforme os modelos convencionais, essas duas forças sempre se equilibram. Afinal, se oferta e demanda são simultaneamente estimuladas, não deveria haver um natural reajuste dos preços? O problema, no entanto, é que os modelos de equilíbrio não captam o efeito nocivo da inflação.

A inflação

A inflação, gerada pelo aumento de crédito, começa aos poucos manifestar seus efeitos nocivos somente em uma segunda etapa. Muito importante lembrar que o aumento dos preços é o efeito da inflação, não a sua definição. A inflação, como já ensinava Milton Friedman, é um fenômeno monetário. 

O efeito da inflação, no entanto, reflete de modo diferente sobre oferta e demanda. No caso da demanda, o aumento dos preços faz com que o poder de compra se enfraqueça. Já pelo lado da oferta, o aumento dos preços é um estímulo para continuar produzindo. Nesse cenário, os primeiros desajustes começam a aparecer. É o que os austríacos, especialmente Hayek, chamavam de malinvestments.  


Por isso os austríacos dizem que as sementes para as crises são plantadas durante a fase de euforia.

Boom se torna Bust

Mas cabe a pergunta: por que os empresários não reajustam a produção ao nível da demanda? Por duas razões: eles, assim como todos os agentes da economia, tomam os preços como guia para tomada de decisões econômicas. Como a inflação distorce os preços, a leitura dos empresários se torna, consequentemente, problemática. É muito difícil distinguir aumento de preços por demanda efetiva e aumento de preços por bolha inflacionária.

Mas ainda que o empresário consiga distinguir, ele precisará transpor o segundo problema, que é reajustar todos os processos produtivos já iniciados. Imagine um empreendedor no ramo imobiliário que decide realizar uma obra ou um industrial que optou por expandir seu parque fabril. Processos mais longos de produção demandam maior tempo de reajuste. É como esperar que alguém faça uma curva de 360º com um navio. 

Ou seja, aquela expansão do crédito que outrora estimulou a economia, agora cobra seu preço. A inflação enfraquece o consumo ao mesmo tempo em que distorce a produção. 

A “solução” dos governos
O problema, então, é a queda nos juros? Absolutamente não. Os juros podem cair, caso estejam lastreados em poupança real. Eis a chave para entendermos a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. Poupança, como já falado, significa abstenção do consumo imediato. Se o nível de poupança está alto, é possível sustentar processos produtivos de maior longevidade. 

A questão é quando os juros caem via intervencionismo governamental, o que não é sustentável. Surpreendentemente, quando a crise chega, os governos, a fim de evitar desgastes políticos, recorrem a novas rodadas de estímulos. Eles expandem os gastos, jogando mais dinheiro no mercado, com o intuito de “reaquecer” a economia. Isso significa, em outras palavras, novas ondas inflacionárias. 

É como querer apagar o fogo com gasolina. Governantes e central bankers mundo afora tomam as mesmas medidas que trouxeram a crise. A curto prazo, a economia pode até dar alguns sinais de recuperação, mas, a longo prazo, é só o início de mais um ciclo econômico acompanhado, é claro, de inflação. 


Conclusão
Aquilo que deveria ser a fase de expurgo do consumo e produção insustentáveis, torna-se uma nova oportunidade para estímulos contínuos na economia. Por isso precisamos discutir o papel dos governos e quanto poder já foi concedido aos Bancos Centrais.

Gostou do artigo? Compartilhe este conteúdo!