A SUPERIORIDADE DO BITCOIN EM RELAÇÃO AO OURO COMO RESERVA DE VALOR

Você deve ter lido esse título e se sentido surpreso ou até ofendido, durante anos aprendemos que o ouro é uma ótima reserva de valor e que passou pelo “teste do tempo”, durante milênios pessoas compraram ouro e exatamente por isso se protegeram de inflações e as mais diversas formas de intervenção estatal, mas será que vai permanecer assim para sempre? Lhe convido a uma reflexão a respeito desse tema onde vamos dissecar o termo “reserva de valor” e fazer algumas ponderações.

O QUE É UMA RESERVA DE VALOR?

Se característica por ativos que são capazes de manter seu poder de compra sem perder valor no longo prazo, no mínimo uma reserva de valor deve superar a inflação afim de proteger o patrimônio de quem o possui e esses tipos de ativos são marcados pelas seguintes características: durabilidade, portabilidade, divisibilidade, uniformidade, aceitabilidade e escassez. Abaixo vamos dissertar sobre cada uma dessas características e contrapor com o Bitcoin:

DURABILIDADE

O ouro não oxida, corrói e nem se deteriora com o tempo, mantém seu brilho por séculos o que leva a nós meros mortais a confiar no metal. Quimicamente falando o ouro é praticamente indestrutível, embora seja possível dissolvê-lo com ácido nítrico e ácido clorídrico ele pode ser recuperado por outro processo químico. Porém, essa durabilidade possui um limite prático para quem o detém.

Imagine que um jovem cidadão sírio resolva guardar ouro em sua residência, a princípio sensato pois não pode confiar na moeda de um país tão complicado, ele sai para trabalhar e quando volta observa que sua casa foi atingida por uma bomba, o ouro atingido pela bomba foi fragmentado, mas é claro que por sua natureza química inerte ele manteve suas propriedades, mas qual a viabilidade do cidadão em encontrar sua reserva em meio aos destroços? Micro fragmentos em meio a toneladas de destroços? Se ele tivesse conseguido a proeza de guardar 10 onças, o que sobrou após esse cenário? Quanto ele conseguiria encontrar depois desse acontecimento?

Em contrapartida o Bitcoin como sabemos é altamente durável, sendo impossível a interferência de uma bomba na quantidade de Bitcoins numa carteira, as condições físicas do ambiente de nada interferem no saldo de uma carteira, ainda que trágico sejam essas condições, mas devemos analisar o Bitcoin pelo contexto adequado que é o digital.

É sabido que a maior parte da mineração de Bitcoin no mundo ocorra na China, mesmo ele sendo proibido no país e se por um acaso o Partido Comunista Chinês descobrir exatamente a localização das maiores mineradoras de Bitcoin e as destruir completamente? Seus Bitcoins continuarão em sua carteira e todas as transações que estavam nos blocos prosseguirão, mesmo que a rede tenha perdido 60% de sua capacidade de mineração. O Bitcoin possui uma tecnologia chamada “ajuste de dificuldade”, quando existem muitos mineradores na rede, a “prova” para minerar bitcoins automaticamente fica mais difícil e quando existem poucos mineradores, ou seja, um poder computacional menor torna a mineração “mais fácil”. Na prática mesmo com menos mineradores, o protocolo conseguiria realizar as transações, no máximo a rede vai passar por uma lentidão, mas todas as transações serão validadas e nesse processo trágico o portador não perderá seus ativos.

PORTABILIDADE

Como você transportaria 1 milhão de dólares em ouro? No momento em que estou escrevendo esse artigo, significaria algo em torno de 15kg em ouro. Em um cenário calmo e sereno (algo raro) isso já seria complicado de ser feito, imagine em um cenário de crise e guerra? O peso do bitcoin é medido em bits que são salvos na própria rede do Bitcoin e pode ser acessado por sua wallet, que seria tanto um objeto físico (mais seguro), quanto no seu celular.

DIVISIBILIDADE

O ouro pode ser fisicamente dividido, mas isso pode ser impraticável para transações menores. No entanto, certificados de propriedade do ouro podem oferecer divisibilidade melhorada, porém burocrática e sujeito a inúmeros outros problemas, como falta de lastro por exemplo. 1 Bitcoin pode ser dividido por até 100 milhões de unidades, o que viabiliza e muito microtransações. E pensando num cenário em que o Bitcoin está tão valorizado que até mesmo 1 satoshi ou seja 0,00000001 BTC pode ter um valor considerável, o protocolo pode ser votado para aumentar a quantidade de zeros e viabilizar transações menores.

UNIFORMIDADE

A uniformidade garante que todas as unidades de valor sejam aceitas de maneira igual, sem a necessidade de verificar a autenticidade ou pureza a cada transação. Isso é vital para a eficiência do mercado e para a confiança no sistema financeiro. Por exemplo, se você tem uma moeda de ouro de uma onça de um determinado grau de pureza, ela é considerada igual a outra moeda de ouro da mesma especificação. Até aí tudo funciona perfeitamente bem, mas quem determina esse grau de pureza e sob quais critérios? Muito embora já existam especialistas nisso, fato é que você sempre terá que confiar na análise de uma instituição terceira que pode estar sujeita a corrupção, pressão governamental ou mesmo falha humana e se você precisar de poucas onças de ouro e quiser comprar de algum desconhecido terá ainda que despender de um valor para verificação da autenticidade.

A situação toda pode ser piorada se vermos que certos tipos de falsificação são tão bem elaborados que centraliza ainda mais os “capazes” de distinguir a autenticidade do metal, certas falsificações são feitas a nível global.

A maior processadora de ouro na China, a Wuhan Kingold Jewelry usou mais de 83 toneladas de ouro falso como garantia de empréstimos bilionários, essa quantia representava na época 22% da produção de ouro na China e 4,2% de toda reserva de ouro da China até 2019. Imagine o tamanho do impacto disso no mercado? Como ficam os proprietários de ouro sabendo que parte relevante do mercado é falsa? A grande regulamentação e centralização da fiscalização no ouro acabam por fomentar esse tipo de problema, no caso do Bitcoin qualquer indivíduo pode autenticar uma transação, contrário do ouro que naturalmente depende de uma estrutura burocrática e para poucos, na blockchain qualquer pessoa pode se tornar um minerador e prover de poder computacional para validar as transações afim de evitar esse tipo de problema, em uma única transação de Bitcoin, a validação passa por milhares de mineradores, tornando a muito mais confiável que delegar a uma instituição única, ainda que seja conceituada, isso não é suficiente, é preciso de descentralização!

ACEITABILIDADE

Tendo em vista a centralização que o ouro é sujeito e sua difícil portabilidade, acaba por o tornar um ativo menos atraente que o Bitcoin para ser aceito globalmente, a descentralização o faz com que ele chegue de fácil acesso a indivíduos na Nigéria por exemplo, algo que o ouro com toda sua burocracia só restaria a esses indivíduos tentarem a sorte com a mineração manual usando ferramentas precárias. Quando se fala em uma reserva de valor, temos que ter em mente que o ativo precisa ser acessível ao maior número de pessoas em qualquer cenário e em qualquer cultura.

Em 1933 Roosevelt proibiu a posse de ouro por cidadãos americanos, passando a configurar sua posse um crime, embora o mercado paralelo tenha conseguido prosseguir com o uso do ouro, a chance de as pessoas aceitarem diminuiu drasticamente e as pessoas foram praticamente obrigadas a aceitar o dólar como moeda, justamente por ser muito mais dificultoso transportar ouro e sua regulamentação ser elevada, o que o torna passível de maior fiscalização e controle.

Ora, se estamos falando de proteção inflacionária, independência e prosperidade no longo prazo. Por que continuar usando um ativo que é controlado justamente por quem causa todo esse problema? No passado a melhor alternativa era o ouro, mas os tempos mudaram e hoje temos o Bitcoin.

ESCASSEZ

Há quem diga que o ouro é um ativo extremamente escasso, isso fazia muito sentido até o século passado, mas a tecnologia descentralizada e distribuída vem mudando esse cenário. Cerca de 50 mil toneladas, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos ainda não foram descobertos, até o momento estimasse um total de 190 mil toneladas já descoberto pela humanidade. A medida que a tecnologia avança, mais fácil fica a extração, pode ser que chegue um momento onde minerar ouro se torne algo rápido, prático e barato, o que aceleraria sua oferta no mercado e o faria desvalorizar.

Outro problema para nós é que ouro pode ser encontrado fora do nosso planeta, estima-se que o asteroide 16 Psyche possui mais valor em ouro que o PIB global, com os avanços da tecnologia espacial e o interesse dos humanos em colonizar outros planetas, há de chegar o dia em que coletar ouro de asteroides será uma tarefa fácil e barata e ocasionando novamente na redução de seu valor.

Já existe tecnologia para criar ouro, a transmutação nuclear pode transformar elementos como chumbo ou mercúrio em ouro, tal processo é extremamente caro e demanda um custo enérgico imenso, mas se custo e energia são problemas, isso é resolvido no longo prazo com a demanda e o livre mercado.

Tendo em vista o desafio que o avanço tecnológico traz aos investimentos, é bastante sensato que invés de buscarmos ativos com limitações naturais, devemos buscar ativos com limitações lógicas e matemáticas, tal qual o Bitcoin que possui limite de 21 milhões de unidades, não sendo possível aumento de sua oferta monetária e tampouco replicação fidedigna do ativo dentro do sistema.  Você não encontrará Bitcoin em asteroide ou embaixo da terra, mesmo que o código do sistema seja aberto e possa ser criado uma espécie de Bitcoin 2.0, o protocolo é distinto e seu reconhecimento é único.

INCONFISCÁVEL

Para muitos, essa não é característica de uma reserva de valor e não cabe a mim o julgamento, difícil pensar numa tecnologia livre de confisco até pouco tempo atrás, contudo a partir do momento em que exista tal tecnologia, por que não incrementar na lista de características essenciais a reserva de valor? Ainda mais quando vivemos numa época em que violação da propriedade privada faz parte da rotina. Se o governo souber que você tem ouro, seja por certificado de registro ou fisicamente em sua propriedade, ele pode tomar se quiser, mas esse mesmo governo sabendo que você tem Bitcoin em sua hardwallet não consegue fazer absolutamente nada com relação às bitcoins guardadas lá, mesmo que ele tenha acesso a sua hardwallet, de nada adianta se não souber as palavras chaves. E a prova que isso funciona e muito, se dá ao fato de o Bitcoin existir a 15 anos e todo dia, pessoas, governos e instituições inteiras tentam violar o protocolo sem sucesso.

Pode ser que no futuro o ouro tenha seu valor destinado a ser meramente um ótimo condutor elétrico como foi descoberto e massificado pelo boom da eletrônica no século XX, o aumento tecnológico e sua desvalorização frente ao Bitcoin pode fazer com que deixe de ser um objeto de luxo e ostentação para se tornar uma “ferramenta”.

Por fim, meu intuito não é ser um revolucionário e dizer que “ouro não presta”, a mentalidade revolucionária nos leva a negar a importância do passado e seus ensinamentos, não é isso que devemos buscar, enxergo o ouro como um grande ativo que está com seus dias contados e que dará luz a sua evolução quase perfeita, o Bitcoin.

Gostou do artigo? Compartilhe este conteúdo!