O Caminho da Servidão

Para entendermos a obra “O Caminho da Servidão”, de F,A Hayek, precisamos verificar o contexto histórico que o autor estava inserido e os motivos que o levaram a elaborar tal teoria. Hayek nasceu na Áustria em 1899, servindo na Primeira Guerra Mundial e posteriormente assistiu de perto a ascensão do nazismo, fascismo e socialismo.

A popularidade desses movimentos, segundo Hayek, se deu por causa da concepção racionalista construtivista da sociedade. Em outras palavras, a crença na possibilidade de coordenar ou até mesmo recriar toda a sociedade segundo a mera vontade racional. Essa concepção alimentou as aspirações de alguns pensadores, teóricos sociais e políticos por controle, ordem e planejamento cada vez maiores.

O mercado passava a ser visto cada vez mais como uma completa anarquia – no termo mais pejorativo possível – e o socialismo, principalmente após Marx, como “científico”. (Aliás, Hayek cita em seu livro como os socialistas se apropriam de certas palavras, desorientando as massas, algo bem semelhante ao que George Orwell mais tarde chamaria de novilíngua).

Se, conforme o pensamento dos socialistas, a criação de uma nova sociedade está ao alcance da razão, basta vontade política para colocar tais considerações em prática. Esse arcabouço intelectual deu origem aos movimentos revolucionários que, diga-se de passagem, nunca foram feitos por verdadeiros proletários. Marx foi ingênuo ao supor que o socialismo viria como ação do proletariado. 

A verdade é que o proletário não pensava em revolução até porque não tinha sequer condições de concebê-la intelectualmente. O socialismo historicamente foi orquestrado por alguns poucos abastados que tinham as condições materiais necessárias para passar horas intermináveis lendo e estudando sem grandes preocupações em conquistar o suado pão de cada dia labutando no chão de fábrica, situação típica do verdadeiro trabalhador.

Em todo caso, a concepção construtivista racionalista foi tão profundamente incorporada que as tentativas de criar a sociedade ideal, friamente calculada e construída foram feitas. Mas se engana quem supõe que tais tentativas ocorreram apenas na Rússia, Alemanha ou Itália. 

O Reino Unido e os EUA também estavam avançando cada vez mais em direção ao totalitarismo. Para Hayek, o motivo é: o intervencionismo também é alimentado pela ideia de que se pode planejar e organizar, apelando à razão daqueles que compõem o estado, o comportamento da economia e o funcionamento da sociedade de uma forma geral. Portanto, o intervencionismo, mesmo que de forma mais branda, também bebe da fonte racionalista construtivista, sendo assim, há o risco real, caso os planejadores mantenham-se firmes nessa linha por um certo tempo, de conduzir a sociedade ao totalitarismo socialista.

Socialismo e intervencionismo acham ser possível prever as diversas externalidades de cada ação, antecipando-as ou reajustando-as até chegar ao ponto de equilíbrio econômico e social. A diferença entre ambos não está no modus operandi, mas apenas na dosagem. 

Muitos achavam que Hayek estava exagerando, querendo defender o livre mercado a todo custo. Não entenderam que o austríaco estava querendo dizer. O intervencionismo contínuo conduz ao socialismo, mas não necessariamente que todo e qualquer intervencionismo certamente o fará.

Para facilitar aquilo que estamos falando: uma pessoa que toma pequenas (porém constantes) doses de bebida alcoólica acaba ficando embriagada sem sequer perceber quando exatamente isso ocorreu. Não se sabe a partir de qual rodada a pessoa passou do ponto, sabe-se apenas o efeito final, quando já é tarde demais.
Isso não significa que uma pessoa não possa tomar nenhum gole de cerveja durante toda sua existência pois se tornará irreversivelmente alcoólatra. A questão é ficarmos sempre alerta para nos localizarmos em qual ponto realmente estamos. Como disse Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

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