Por que o socialismo durou tanto tempo se o cálculo econômico, segundo Mises, é impossível?

Os apontamentos de Mises
Essa é uma pergunta muito interessante. Bom, primeiro que Mises já previa que o socialismo não acabaria com a economia como em um piscar de olhos. Quando lidamos com fenômenos sociais, precisamos entender que o desenrolar dos acontecimentos não ocorre de maneira mecanizada. Há variáveis como cultura, tradição, costumes, e é justamente isso o que Mises enfatiza.


Mises sustentou que, por conta da experiência acumulada em cenários de racionalidade econômica, o socialismo poderia ter alguma durabilidade. Como os agentes econômicos possuem memória, eles detém o aprendizado sobre quais técnicas e métodos produtivos são mais eficientes. Em seu livro “O Cálculo Econômico sob o Socialismo”, na página 30, diz:

“Por algum tempo, a memória da experiência adquirida com a economia competitiva (…) poderia adiar um pouco o completo colapso da economia. Os antigos métodos de procedimento poderiam ser mantidos, não por causa de sua racionalidade, mas porque aparentariam já estarem consagrados pela tradição.”

A supressão das vozes contrárias
O segundo ponto para a durabilidade do socialismo diz respeito ao tipo de poder político consolidado nesse tipo de arranjo social. A História já provou que o socialismo é uma escola de ditadores. O motivo pelo qual os regimes socialistas inevitavelmente são ditatoriais é um tópico que vale ser abordado à parte.. 

Mas, em linhas gerais, podemos dizer que é relativamente fácil postergar o declínio total de uma sociedade quando mantém, pelo medo, violência, perseguição e brutalidade, o controle das instituições. Impedir que pessoas se manifestem livremente e criem oposição ao sistema colabora enormemente para sua continuidade de um sistema, mesmo que já em frangalhos. 

Mas claro, tudo tem limites. E o limite chegou definitivamente em 1991 para a União Soviética. Assim como chegou para os alemães em 1989. A Rússia embarcou na experiência socialista em 1917, enquanto a Alemanha foi literalmente dividida após a Segunda Guerra Mundial em Ocidenal e Oriental.

Durabilidade de um regime
E aqui entra o terceiro ponto: peguemos a União Soviética, a mais longeva experiência socialista até então. Essa experiência durou 74 anos. Dito isso, precisamos repensar a pergunta inicial, pois ela carrega um problema: a falsa premissa de que 74 anos é “muito tempo.” Colocando em perspectiva, 74 anos é uma longevidade abaixo da atual expectativa de vida no nosso país. 

Em comparação, o absolutismo, por exemplo, vigorou do século 16 ao 18. As democracias liberais modernas surgiram no século 18 e persistem ainda hoje; o Feudalismo durou, aproximadamente, mil anos; o Império Romano durou 5 séculos. Portanto, quando pensamos na longevidade de um regime sócio-político-econômico, menos de 3/4 de século é uma marca absolutamente insignificante. 

Conclusão
Após essa pequena explanação sobre teoria econômica e história, te convido, leitor, à seguinte reflexão: provavelmente seus pais e avós já viveram mais que a União Soviética!

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