A formação convencional em Economia
Ao entrarmos na faculdade de economia, nos é ensinado que devemos analisar o funcionamento do mercado admitindo sua natural convergência ao equilíbrio. Nos apresentam Alfred Marshall, Leon Walras, entre outros. As forças da oferta e da demanda se harmonizam e se equivalem perfeitamente.
Mostram os cálculos, os gráficos, explicam que a linha da oferta é positivamente inclinada, pois, quando aumenta o preço (+), também aumenta a oferta (+). Sinais iguais + e + ou – e – = +. A lei da demanda segue a direção inversa, sendo negativamente inclinada, pois, quando aumenta o preço (+), diminui a demanda (-). Sinais diferentes + e – ou – e + = – . Os exercícios primários são sempre focados em buscar novos pontos de intersecção quando o nível de oferta e demanda se altera.
É tudo muito lógico, racional e bem amarrado. Para dar o toque final, nós, economistas, recorremos à expressão latina ceteris paribus (tudo o mais constante) e assumimos que as relações econômicas podem ser representadas por tais modelos de equilíbrio. Vale ressaltar que tudo aquilo que não se enquadra no que é ensinado, ou seja, aquilo que não é mainstream, é visto como vulgar, pseudo científico e deve ser ignorado.
O positivismo ideológico capturou mentes e corações de inúmeras gerações de economistas. No entanto, fica claro que os modelos de equilíbrio falham em desconsiderar a subjetividade das escolhas dos agentes econômicos, a criatividade, a percepção empreendedora, a força inventiva, a inovação, a obsolescência, em suma, tudo aquilo que não pode ser quantificado.
Mas o vício de pensar a economia através dos números e não através da ação humana prática não o faz perceber seus erros básicos. Os dados pré-selecionados para a modelagem não representam a totalidade das informações necessárias, nem reúnem o conhecimento altamente disperso no mercado.
A alternativa austríaca
E aqui entra a Escola Austríaca de Economia com sua abordagem sobre processos de mercado. Os austríacos partem do princípio de que os mercados não devem ser estudados como estados estacionários de equilíbrio e sim como um grande processo orgânico, complexo e imprevisível, cuja interação entre milhões e milhões de indivíduos permite novas descobertas e gera novos conhecimentos que não podem ser acompanhados, captados e esboçados nos modelos tradicionais.
Essa abordagem, em contraposição aos modelos de equilíbrio, admite falhas humanas; simultaneamente, abarca os ajustes constantes de planejamento econômicos, todos realizados em um ambiente de genuína incerteza e em vista de expectativas que podem se concretizar ou não. Contempla-se, aqui, fatores inerentes à vida econômica, tais como risco, especulação, conhecimento limitado, empreendedorismo e coordenação cooperativa.
Da teoria à prática
Essa abordagem não é apenas uma resposta no campo da teoria, mas se desenrola na prática. Os modelos de equilíbrio, pressupondo um estado ótimo em que todos os recursos estão alocados da melhor maneira possível, muitas vezes – embora não necessariamente – servem de base para o intervencionismo governamental. Afinal, se esse suposto estado ótimo não é atingido, então os mercados não estão sendo eficientes o bastante, cabendo aos governos a devida correção.
Já os processos de mercado enfatizam que não há um estado ótimo e que as correções para melhor alocação dos recursos são feitas via interação entre agentes dispersos na economia. Em outras palavras, é óbvio que falhas humanas existem, porém elas são mais facilmente superadas quando é permitido o envolvimento de variados atores em vez de aguardar por soluções apresentadas por burocratas.
Conclusão
Desse modo, a Escola Austríaca adverte não apenas sobre a limitação do conhecimento de todos os agentes econômicos, incluindo aqui burocratas e políticos, mas para os resultados não intencionais das intervenções governamentais.